segunda-feira, 2 de novembro de 2009

DUKO BIÔNICO

Em
O Falcão Maltês

Meu nome é Duko Biônico, pelo menos é assim que todos me conhecem. São nove da manhã, acordo com um gosto de cabo de guarda-chuva na boca, não reconheço a mulher na minha cama, mas a garrafa de whisky barato vazia sobre o criado-mudo, dispensa apresentações. Sento na cama e tenho certeza de que minha cabeça vai estourar, tateio o chão a procura do maço de cigarros, ascendo um e quase vomito devido o gosto sintético que invade minha boca, ascendi distraidamente o cigarro do lado errado, não desisto, ascendo outro, desta vez eu não erro. Observo a garota enquanto fumo, a vejo por entre a fumaça e acho graça. Ela está nua ao meu lado e eu nem sei o seu nome, onde mora ou o que faz para viver. Penso eu que isso já está virando clichê, mas não posso evitar.
Faço menção de se levantar e meus movimentos a desperta. Ela vira preguiçosa e debochadamente, com o rosto borrado de maquiagem e sulcado pelos vincos do colchão. Não é bonita, mas isso pouco me importa.
_ Que hora é agora? - Balbucia ela ainda sonolenta, procurando o relógio de pulso ao lado da cama, e como quem toma um susto, pula dela totalmente desperta. – droga! Estou atrasada, meu chefe vai me matar, porra! – ela pragueja como se a culpa por ter perdido a hora fosse minha. Eu a observo e me divirto com a cena hilária que se desenrola a minha frente. A garota cujo nome eu não faço a mínima idéia qual seja, pula num pé só, tentando pateticamente, calçar os sapatos, vestir o curto vestido, ajeitar os cabelos, acender o cigarro. Não faz nem uma coisa nem outra direito e sai porta afora, esbarrando nos batentes sem ao menos se despedir. Eu fico observando a porta fechada por um instante e me surpreendo quando esta se abre de repente. A garota voltou para pegar a bolça, então sai para não voltar mais, sei que não voltará. Lembrei o nome dela é Mary, acho que é Mary. Bom, deixa pra lá, tenho mais o que fazer, a começar por um bom banho quente e café.
Após o banho, verifico se há recados na secretária eletrônica. Sem sinal de linha, a companhia não foi paga então cortaram o telefone. Visto meu casaco, desisto do café e saio, deixo o apartamento aos cuidados das baratas, o apartamento está infestado, o prédio todo está.
Desço os lances de escada até a apertada garagem no subsolo, para variar um pouco, o elevador está quebrado e sem previsão de manutenção não precisa ser um perito para sacar que esse lugar não é dos melhores. No caminho encontro o cara do apartamento 36 dormindo na escada, na certa chegou bêbado de novo e a mulher não o deixou entrar, eu não faço barulho para não acorda-lo, seria um saco ter de agüentar suas lamurias a essa hora da manhã e minha cabeça ainda ta doendo.
Chego a garagem, ela é escura, úmida e fede a urina, não há muitos carros. Os moradores daqui já venderam suas carangas para pagar o aluguel ou a pensão das ex-esposas a muito tempo, tenho sorte por não ter uma ex-esposa.


Caminho até meu carro procurando no bolço do sobretudo as chaves, percebo que ele está furado e que há grande possibilidades de eu as ter perdido no caminho. Procuro de novo, desta vez em bolsos diferente. As encontro. Respiro aliviado, não tenho chaves reserva.
Estou chegando no meu carro quando um sujeito me chama a atenção. Não consigo ver quem é. Usa uma espécie de gorro e roupas pretas, mas uma coisa é certa, ele está mexendo no meu carro.
_Ei! – grito num sinal de alerta, ao me ver ele corre para saída, eu penso em persegui-lo, mas noto um bilhete no meu para brisa, um recado talvez. Esqueço o malandro. Estou curioso, que espécie de bandido deixa bilhetes?
Me aproximo cuidadosamente e antes de apanha-lo, tomo precauções. Me ajoelho e procuro por algo no assoalho, nada. Abro a porta e em seguida o capo, quem sabe uma bomba, nada. O carro esta limpo.
Então apanho o bilhete, um papel limpo, branco do tipo que não se vê mais tão facilmente, agora é só papel reciclado, pardo, áspero e barato, papéis como esses são caros. Para minha surpresa, o bilhete não diz muita coisa, pelo menos nada que faça sentido. Diz: “ O SOL BRILHA MESMO A NOITE, MAS DEPOIS DA MEIA NOITE É QUE BRILHARÁ REALMENTE”.

sábado, 31 de outubro de 2009

Irreversível




Elisabete! Elisabete!
Chamava ternamente uma voz distante e dissipante como eco em cavernas profundas, era hora de acordar, a voz representava o sinal de alerta de que sua mente corria por caminhos perigosos. Era um sinal e por tanto, teria de voltar ou vegetaria para sempre em lembranças suicidas que nem mesmo eram suas.
Para Lis as coisas pareciam não fazer mais sentido vivenciava uma atmosfera surreal, fora de controle, que jamais em sua loucura poderia explicar. Desequilibrada não muito certa do que estava fazendo, se jogou do alto prédio, e naquele impulso louco lhe veio a sanidade e arrependida viu que já era tarde, muito tarde. Irreversível.

Era Dezembro de 2009, havia exatos dois anos desde a morte de Pauline e tudo que Elisabete sabia sobre seu estranho suicídio não era mais do que qualquer um poderia especular. Pauline andava confusa e depressiva demais, nos últimos meses buscava amortização pelo abuso de calmantes e uísque e não era incomum fraga-la chorando pelos cantos totalmente ébria.
O que se passava naquela mente perturbada? O que leva uma pessoa cometer uma loucura dessas, chegar ao ponto de tirar a própria vida? Talvez essas perguntas fiquem um bom tempo sem resposta, pois os segredos da mente estão alem do saber dos simples mortais, e de certo, jamais seremos capazes de saber e talvez nunca saibamos com detalhes o quão doente uma mente pode estar até o triste fim.
Haviam se passado dois anos, mas essas perguntas ainda continuavam sem resposta e perturbando seu sono todas as noites. Era hora de buscar ajuda, era hora de obter respostas.
por Alexandre Oliveira

terça-feira, 7 de abril de 2009

Distúrbios



Todas as confusões e distúrbios da minha mente hora sana hora insana,
Refletem a complexidade incoercível de pensamentos perturbadores.

Como explicar o mundo visto pelos meus olhos de lunático a não ser pela força da palavra escrita, um reflexo de minhas incuráveis dores?

Sim pela tinta e pelo papel ou seja lá por quais meios forem, a divagação me pega num tempo depressivo, chuvoso e frio, onde o medo me afligi e deteriora, enriquece meus temores.

Sinto-me indefeso, corrompido, perdido em devaneios a procura de uma escora um esteio, arrimo.
De uma mão, de um ombro amigo, um amor confiável verdadeiro.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Rubro - Amor e òdio I Parte


Quanta fragilidade naquele momento de dor. Como uma flor, sensível, delicada, ela encostava sua cabeça em meu ombro, tremia e soluçava inconsoladamente.
Seus finos cabelos escorriam como um véu negro pelo seu lindo rosto, agora retorcido pela agonia causada pela insuportável dor da perda.
Ofereço-lhe um lenço e mesmo ela tendo um, aceita gentilmente o meu. Nessas horas, é melhor se deixar consolar.
O padre profere uma prece, que sabemos não servir de consolo ou conforto para ambos, mas escutamos educadamente a ladainha, em respeito aquele que partiu e os demais presente ali.
Sempre achei que dor maior, sente aquele que fica, do que aquele que vai. Que frustração maior é saber que não o veremos nunca mais. A não ser por alguma forma artificial como numa imagem, sonhos ou lembranças, nada mais. Por que mesmo com a volta, não somos mais o mesmo, não somos mais o que éramos antes.
Estou aqui parado a poetizar melancolicamente e por alguns minutos chego a pensar que sou gente, que existe um pouco de humanidade em mim, mas isso não é verdade. Sou o mesmo crápula de sempre. Aproveitando da carência da pobre viúva e do seu medo da solidão, eu à abraço e acaricio sensívelmente. Ela sabe que meus carinhos são mais que consolos empáticos, mas a duvida e a confusão a impedem de reagir. Ela não tem certeza se quer reagir.
De súbito, ela se afasta de mim e se desculpa, dizendo que tudo isso a deixou desnorteada, e que abraçar um estranho não lhe era comum, mesmo num momento como esse. Eu nada digo, apenas toco-lhe a nuca com minhas mãos quentes e confortantes, puxo-a de volta num beijo cálido, sugo-lhe a energia, entro em sua mente, possuindo e consumindo seu corpo em poucos segundos. Eu vim por suas preces, vim por seu desejo por felicidade e liberdade, mas não ficarei por muito mais tempo.
Eu a deixo ver o vermelho dos meus olhos e sentir a frieza do meu coração, balbucio palavras de promessas fúteis em seu ouvido e desapareço sob a luz fria e alaranjada do entardecer. A deixo caída na grama verde e macia, salpicada por pétalas de rosas vermelhas, as minhas preferidas. Ouço gritos, mas não me abalo.

O cachecol de Odila



Um dia nunca é como o outro, com toda certeza. Apesar da rotina do dia – a dia, ainda cada raio de Sol ou mesmo um dia chuvoso, nos trazem inspirações, novas emoções, sensações, desejos.
Silvestre atravessou o enorme saguão da movimentada estação de metrô rumo a plataforma de embarque. Apesar de saber que não demoraria mais que quatro minutos até a chegada do próximo trem, apressou-se a pegar o que estava parado e quase de partida na plataforma. O alarme de aviso havia sido acionado e provavelmente ficaria preso entre as portas atrasando o trem.
Sem problemas, pensou. Então, puxou ar nos pulmões e correu, esbarrou num, tropeçou noutro, foi cercado por uma menininha de tranças e sorvete, e apesar de seu esforço, perdeu o trem.
Ficou estancado, rente a porta, alem da faixa amarela, vendo as janelas correrem salpicadas de cores e formas disformes.
Droga! Praguejou.
Ficou corado, a face pegando fogo, os olhos lacrimejando de nervoso. Perder o trem não era nada, mas ter feito tanto esforço em vão, ó sim, isso sim era humilhante.
Afastou-se. Se pôs timidamente atras da faixa de perigo e esperou o tempo passar. Mais quatro minutos, tempo suficiente para ler todos os painéis de anúncios, notar a elegância de finos cavalheiros e o desleixo propositados dos muitos adolescentes ali.
Então, sentiu o golpe de ar e o tilintar dos trilhos, viu quando a multidão deu um passo a frente numa coreografia ensaiada, pronta para embarcar antes mesmo do trem encostar a plataforma.
Instintivamente fez o mesmo, agora não havia pressa.
Foi então que ele a viu. Linda, exuberante, parecendo flutuar em pleno ar. E tudo ficou em preto e branco. Somente ela deslizava colorida, radiante.
Ela, uma mulher magnífica, quase cristalina, cabelos negros e olhar profundamente sensual, no pescoço longo, convidativo, um exótico e chamativo cachecol vinho o envolvia, vinho como o batom que cobria seus lábios finos e deliciosamente delicados.
O cachecol, uma peça marcante e ao mesmo tempo insignificante, contrastava com a moldura curvilínea de seu belo corpo, este com toda certeza esculpido pelos deuses do amor.
Silvestre, mais uma vez estancou e voltou a corar.
E os sentimentos que lhe envolveram, ele mesmo não podia explicar. Primeiro seu coração parou abruptamente, depois voltou a bater lento e descadenciado. Então veio um frio que pareceu incomodar, mas depois um calor sufocante que fez sua cabeça girar, embriagar-se, suas pernas amolecerem, derreter-se nas bases.
O trem, rústico e barulhento parou sem poesia, mas a musa estonteante embarcou silenciosamente sem hesitar, cravando sua silhueta perfeita nas pupilas petrificadas de Silvestre.
Silvestre mais uma vez perdeu o trem, não podia se mover, era incapaz de dar um passo sequer. Então como se estivesse num transe profundo, viu novamente ela sumir em cores, em meio a formas disformes e incoercíveis, um borrão alucinógeno devido o movimento rápido e cadenciado do trem. E da mesma forma magica que ela apareceu, também desapareceu.
Silvestre ficou ali parado, perdendo um trem após outro, mas nada mais importava. Nas mãos, inexplicavelmente, o cachecol vinho se encontrava, em seu corpo tremulo, o perfume dela se fixara, e na sua boca, o gosto do batom lhe excitava. Em suas lembranças, um nome lhe impulsionava a vida, Odila.
Um dia nunca é como o outro, com toda certeza. Apesar da rotina do dia – a dia, ainda cada raio de Sol ou mesmo um dia chuvoso, nos trazem inspirações, novas emoções, sensações, desejos.

FIM
Alexandre Oliveira.