terça-feira, 7 de abril de 2009

Distúrbios



Todas as confusões e distúrbios da minha mente hora sana hora insana,
Refletem a complexidade incoercível de pensamentos perturbadores.

Como explicar o mundo visto pelos meus olhos de lunático a não ser pela força da palavra escrita, um reflexo de minhas incuráveis dores?

Sim pela tinta e pelo papel ou seja lá por quais meios forem, a divagação me pega num tempo depressivo, chuvoso e frio, onde o medo me afligi e deteriora, enriquece meus temores.

Sinto-me indefeso, corrompido, perdido em devaneios a procura de uma escora um esteio, arrimo.
De uma mão, de um ombro amigo, um amor confiável verdadeiro.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Rubro - Amor e òdio I Parte


Quanta fragilidade naquele momento de dor. Como uma flor, sensível, delicada, ela encostava sua cabeça em meu ombro, tremia e soluçava inconsoladamente.
Seus finos cabelos escorriam como um véu negro pelo seu lindo rosto, agora retorcido pela agonia causada pela insuportável dor da perda.
Ofereço-lhe um lenço e mesmo ela tendo um, aceita gentilmente o meu. Nessas horas, é melhor se deixar consolar.
O padre profere uma prece, que sabemos não servir de consolo ou conforto para ambos, mas escutamos educadamente a ladainha, em respeito aquele que partiu e os demais presente ali.
Sempre achei que dor maior, sente aquele que fica, do que aquele que vai. Que frustração maior é saber que não o veremos nunca mais. A não ser por alguma forma artificial como numa imagem, sonhos ou lembranças, nada mais. Por que mesmo com a volta, não somos mais o mesmo, não somos mais o que éramos antes.
Estou aqui parado a poetizar melancolicamente e por alguns minutos chego a pensar que sou gente, que existe um pouco de humanidade em mim, mas isso não é verdade. Sou o mesmo crápula de sempre. Aproveitando da carência da pobre viúva e do seu medo da solidão, eu à abraço e acaricio sensívelmente. Ela sabe que meus carinhos são mais que consolos empáticos, mas a duvida e a confusão a impedem de reagir. Ela não tem certeza se quer reagir.
De súbito, ela se afasta de mim e se desculpa, dizendo que tudo isso a deixou desnorteada, e que abraçar um estranho não lhe era comum, mesmo num momento como esse. Eu nada digo, apenas toco-lhe a nuca com minhas mãos quentes e confortantes, puxo-a de volta num beijo cálido, sugo-lhe a energia, entro em sua mente, possuindo e consumindo seu corpo em poucos segundos. Eu vim por suas preces, vim por seu desejo por felicidade e liberdade, mas não ficarei por muito mais tempo.
Eu a deixo ver o vermelho dos meus olhos e sentir a frieza do meu coração, balbucio palavras de promessas fúteis em seu ouvido e desapareço sob a luz fria e alaranjada do entardecer. A deixo caída na grama verde e macia, salpicada por pétalas de rosas vermelhas, as minhas preferidas. Ouço gritos, mas não me abalo.

O cachecol de Odila



Um dia nunca é como o outro, com toda certeza. Apesar da rotina do dia – a dia, ainda cada raio de Sol ou mesmo um dia chuvoso, nos trazem inspirações, novas emoções, sensações, desejos.
Silvestre atravessou o enorme saguão da movimentada estação de metrô rumo a plataforma de embarque. Apesar de saber que não demoraria mais que quatro minutos até a chegada do próximo trem, apressou-se a pegar o que estava parado e quase de partida na plataforma. O alarme de aviso havia sido acionado e provavelmente ficaria preso entre as portas atrasando o trem.
Sem problemas, pensou. Então, puxou ar nos pulmões e correu, esbarrou num, tropeçou noutro, foi cercado por uma menininha de tranças e sorvete, e apesar de seu esforço, perdeu o trem.
Ficou estancado, rente a porta, alem da faixa amarela, vendo as janelas correrem salpicadas de cores e formas disformes.
Droga! Praguejou.
Ficou corado, a face pegando fogo, os olhos lacrimejando de nervoso. Perder o trem não era nada, mas ter feito tanto esforço em vão, ó sim, isso sim era humilhante.
Afastou-se. Se pôs timidamente atras da faixa de perigo e esperou o tempo passar. Mais quatro minutos, tempo suficiente para ler todos os painéis de anúncios, notar a elegância de finos cavalheiros e o desleixo propositados dos muitos adolescentes ali.
Então, sentiu o golpe de ar e o tilintar dos trilhos, viu quando a multidão deu um passo a frente numa coreografia ensaiada, pronta para embarcar antes mesmo do trem encostar a plataforma.
Instintivamente fez o mesmo, agora não havia pressa.
Foi então que ele a viu. Linda, exuberante, parecendo flutuar em pleno ar. E tudo ficou em preto e branco. Somente ela deslizava colorida, radiante.
Ela, uma mulher magnífica, quase cristalina, cabelos negros e olhar profundamente sensual, no pescoço longo, convidativo, um exótico e chamativo cachecol vinho o envolvia, vinho como o batom que cobria seus lábios finos e deliciosamente delicados.
O cachecol, uma peça marcante e ao mesmo tempo insignificante, contrastava com a moldura curvilínea de seu belo corpo, este com toda certeza esculpido pelos deuses do amor.
Silvestre, mais uma vez estancou e voltou a corar.
E os sentimentos que lhe envolveram, ele mesmo não podia explicar. Primeiro seu coração parou abruptamente, depois voltou a bater lento e descadenciado. Então veio um frio que pareceu incomodar, mas depois um calor sufocante que fez sua cabeça girar, embriagar-se, suas pernas amolecerem, derreter-se nas bases.
O trem, rústico e barulhento parou sem poesia, mas a musa estonteante embarcou silenciosamente sem hesitar, cravando sua silhueta perfeita nas pupilas petrificadas de Silvestre.
Silvestre mais uma vez perdeu o trem, não podia se mover, era incapaz de dar um passo sequer. Então como se estivesse num transe profundo, viu novamente ela sumir em cores, em meio a formas disformes e incoercíveis, um borrão alucinógeno devido o movimento rápido e cadenciado do trem. E da mesma forma magica que ela apareceu, também desapareceu.
Silvestre ficou ali parado, perdendo um trem após outro, mas nada mais importava. Nas mãos, inexplicavelmente, o cachecol vinho se encontrava, em seu corpo tremulo, o perfume dela se fixara, e na sua boca, o gosto do batom lhe excitava. Em suas lembranças, um nome lhe impulsionava a vida, Odila.
Um dia nunca é como o outro, com toda certeza. Apesar da rotina do dia – a dia, ainda cada raio de Sol ou mesmo um dia chuvoso, nos trazem inspirações, novas emoções, sensações, desejos.

FIM
Alexandre Oliveira.