quinta-feira, 2 de abril de 2009

Rubro - Amor e òdio I Parte


Quanta fragilidade naquele momento de dor. Como uma flor, sensível, delicada, ela encostava sua cabeça em meu ombro, tremia e soluçava inconsoladamente.
Seus finos cabelos escorriam como um véu negro pelo seu lindo rosto, agora retorcido pela agonia causada pela insuportável dor da perda.
Ofereço-lhe um lenço e mesmo ela tendo um, aceita gentilmente o meu. Nessas horas, é melhor se deixar consolar.
O padre profere uma prece, que sabemos não servir de consolo ou conforto para ambos, mas escutamos educadamente a ladainha, em respeito aquele que partiu e os demais presente ali.
Sempre achei que dor maior, sente aquele que fica, do que aquele que vai. Que frustração maior é saber que não o veremos nunca mais. A não ser por alguma forma artificial como numa imagem, sonhos ou lembranças, nada mais. Por que mesmo com a volta, não somos mais o mesmo, não somos mais o que éramos antes.
Estou aqui parado a poetizar melancolicamente e por alguns minutos chego a pensar que sou gente, que existe um pouco de humanidade em mim, mas isso não é verdade. Sou o mesmo crápula de sempre. Aproveitando da carência da pobre viúva e do seu medo da solidão, eu à abraço e acaricio sensívelmente. Ela sabe que meus carinhos são mais que consolos empáticos, mas a duvida e a confusão a impedem de reagir. Ela não tem certeza se quer reagir.
De súbito, ela se afasta de mim e se desculpa, dizendo que tudo isso a deixou desnorteada, e que abraçar um estranho não lhe era comum, mesmo num momento como esse. Eu nada digo, apenas toco-lhe a nuca com minhas mãos quentes e confortantes, puxo-a de volta num beijo cálido, sugo-lhe a energia, entro em sua mente, possuindo e consumindo seu corpo em poucos segundos. Eu vim por suas preces, vim por seu desejo por felicidade e liberdade, mas não ficarei por muito mais tempo.
Eu a deixo ver o vermelho dos meus olhos e sentir a frieza do meu coração, balbucio palavras de promessas fúteis em seu ouvido e desapareço sob a luz fria e alaranjada do entardecer. A deixo caída na grama verde e macia, salpicada por pétalas de rosas vermelhas, as minhas preferidas. Ouço gritos, mas não me abalo.

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